back<
Filipa Araújo

Foi numa tórrida tarde de Julho que a Catarina Real entrou pela primeira vez n' O Sol Aceita A Pele Para Ficar. O pretexto foi ver uma exposição de um amigo e, talvez tenha sido ali, naquele momento preciso, que as sementes para esta exposição/conversa tenham sido lançadas.
A longa conversa que se seguiu é a pedra basilar deste encontro dobrado em três: sentido, uma densidade mais leve que o ar / estar público durante um tempo / círculo entrópico, na medida em que a artista/escritora pretende abrir este espaço e entabular uma conversa com os seres que a visitam: seres plantas, seres animais e seres humanos. No entanto, o que podemos esperar dessa conversa? Falaremos de arte, de poesia, ou melhor de literatura? Ou discutiremos o nosso quotidiano? Podemos, simplesmente, não falar!
A artista/escritora convoca na sua escrita a presença de Llansol, Lispector e Hatherly, destarte apresenta-se, primeiro e acima de tudo, como leitora ou legente. O que nos leva a questionar este encontro dobrado em três e reflectir sobre a razão que nos leva a escrever, criar e, em última análise, a falar. O que é que temos para dizer? Comunicar? Nas palavras de Virginia Wolf, a comunicação é "uma riqueza; é a verdade, a felicidade. E partilhá-la é o nosso dever. Se formos ignorantes para afirmá-lo."
Então, como respondemos à dúvida holderniana: para que servem os poetas em tempos de indigência? Podemos replicar que a escrita é um mecanismo de sobrevivência, porém os mais fortes talvez se encerrem num palácio de silêncio. Estamos, pois, convocados para um encontro ao acaso, talvez de todo o trajecto, um roubo de caminho com a Catarina Real, que nos oferece e pede a sua e nossa atenção, que é não mais do que a forma mais pura e rara de generosidade.

O sol aceita apele para ficar,
23 de Março de 2017

back<